EndoPelvic - Centro Multidisciplinar de Endometriose

A importância da alimentação na Endometriose

A endometriose é uma doença ginecológica comum, atingindo de 5% a 15% das mulheres no período reprodutivo e até 3% a 5% após a menopausa. Essa doença é definida pela presença de tecido do endométrio (células que envolvem a região do útero) fora da cavidade uterina (BELLELIS; PODGAEC; ABRÃO, 2011), como pode ser visualizado na Figura ao lado, podendo causar diversos prejuízos à saúde, se não tratado adequadamente.

Algumas pesquisas têm identificado a influência da dieta como um dos fatores que prejudicam a endometriose (LITTMAN; BERESFORD; WHITE, 2001; TSUBURA et al., 2005). Portanto, a alimentação necessita ser avaliada quando na presença desta doença, a fim de contribuir na redução de sintomas indesejáveis.

Um trabalho desenvolvido por Yap, Furness e Farquhar (2004) constatou que vitaminas do Complexo B, Magnésio e a suplementação de ômega-3 podem exercer um papel anti-inflamatório em pacientes com endometriose, ou seja, promover uma melhora dos sintomas da doença, uma vez que as portadoras de endometriose apresentam inflamação onde exista tecido do endométrio, localizado fora do útero. Essa inflamação pode ser visualizada na Figura apresentada anteriormente, sendo destacada com as setas vermelhas.

Conheça os alimentos fontes de Magnésio, ômega-3 e vitaminas do complexo B:

  • Magnésio (mineral): folhosos verdes escuros como agrião, rúcula, espinafre, escarola, chicória, almeirão, brócolis, couve de Bruxelas, couve manteiga; alimentos integrais (gérmen de trigo, arroz, aveia, centeio, cevada, milho, quinoa, amaranto); semente de girassol, castanhas, tofu (BIESALSKI; GRIMM, 2007).
     
  • Ômega-3 (tipo de gordura): óleo de linhaça*, linhaça, óleo de canola*, óleo de soja*; peixes, em especial: sardinha, arenque, salmão, cavala, atum, truta; folhosos verdes escuros (agrião, hortelã, brócolis cru, couve manteiga crua); soja, milho, aveia, abacate (MARTIN et al., 2006), algas marinhas e semente de chia. *é importante ressaltar que se os óleos vegetais forem aquecidos, existe perda significativa do ômega-3.
     
  • Vitaminas do complexo B (vitaminas): alimentos integrais e folhosos verdes escuros (como destacados nas fontes de magnésio), carnes, peixes, queijo e ricota, feijões, cogumelos, algas marinhas, gema de ovo, sementes de girassol e geleia real (BIESALSKI; GRIMM, 2007).


Uma dieta baseada em vegetais e com reduzida ingestão de proteínas animais pode contribuir na redução do excesso de gordura corporal e reduzir a produção de estrogênio, que é o hormônio responsável pelos principais sintomas indesejáveis da endometriose (SESTI et al., 2007). Para tanto, é importante o acompanhamento de sua dieta pelo nutricionista, para que possa equilibrar a ingestão de nutrientes necessários para a redução da inflamação causada pela endometriose. Não é aconselhado que você retire alimentos de sua refeição, sem a devida orientação profissional.
O consumo de ácidos graxos ômega-6 em excesso e o desequilíbrio com os ácidos graxos ômega-3 pode causar aumento da inflamação e consequentemente intensificar as dores em portadoras da endometriose. Os ácidos graxos ômega-6 estão presentes nos óleos vegetais (oliva, canola, soja, milho, algodão), frango, ovo, sardinha, leite, aveia, soja, milho, abacate (MARTIN et al., 2006), castanhas e nozes. O consumo excessivo de frituras também pode aumentar os sintomas da doença. É necessário o consumo equilibrado entre ômega-3 e ômega-6, sendo que o nutricionista é o profissional habilitado a calcular uma dieta com as recomendações de alimentos adequados, para que você atinja este equilíbrio entre as gorduras ômega.

Outro nutriente indispensável para o tratamento dietético da endometriose são as fibras, que aumentam a eliminação do hormônio responsável pelos principais sintomas da doença, chamado estrogênio (KANEDA et al. 1997; ROSE; LUBIN, 1997). As fibras estão amplamente distribuídas nos alimentos, em especial nos alimentos integrais (farinhas integrais como trigo, centeio, cevada, aveia; aveia em flocos, arroz integral, milho, cereais matinais, quinoa, amaranto, gérmen de trigo, farelos, dentre outros), frutas e verduras, estes principalmente quando consumidos crus.

Alguns pesquisadores vêm estudando a influência de substâncias tóxicas presentes em plásticos e revestimentos internos de latas, como participantes do desenvolvimento da endometriose (MARCHESE, 2012). Cuidados devem ser tomados com os alimentos armazenados em potes plásticos, principalmente aqueles que possuam gorduras e óleos, pois algumas substâncias tóxicas deste plástico podem migrar para o alimento. Uma das substâncias tóxicas mais estudadas atualmente, chamada bisfenol A, pode causar distúrbios hormonais, e por isso, ser um fator contribuinte para a endometriose (COBELLIS et al., 2009; SIGNORILE et al., 2010; BALABANIČ; RUPNIK; KLEMENČIČ, 2011; SIGNORILE et al., 2012).

Considerando todos os pontos apresentados, reafirmamos a importância das portadoras de endometriose de seguir um tratamento dietético prescrito por nutricionista, associado ao tratamento médico para a doença, já que a nutrição pode contribuir na redução da inflamação e, por consequência, melhorar a qualidade de vida destas mulheres. O nutricionista recomendará melhores técnicas de preparo para a manutenção dos nutrientes e equilíbrio adequado destes para a melhoria dos sintomas apresentados pela endometriose.

Karina Nunes de Simas
Nutricionista (CRN-3 23877)


Referências bibliográficas

BALABANIČ, D.; RUPNIK, M.; KLEMENČIČ, A.K. Negative impact of endocrine-disrupting compounds on human reproductive health. Reprod Fertil Dev., v. 23, n.3, p.403-416, 2011.

BELLELIS, P.; PODGAEC, S.; ABRÃO, M.S. Environmental factors and endometriosis. Rev. Assoc. Med. Bras, v.57, n.4, July/Aug., 2011.

BIESALSKI, H.K.; GRIMM, P. Nutrição: Texto e Atlas. Porto Alegre: Artmed, 2007.

COBELLIS, L.; COLACURCI, N.; TRABUCCO, E.; CARPENTIERO, C.; GRUMETTO, L. Measurement of bisphenol A and bisphenol B levels in human blood sera from healthy and endometriotic women. Biomed Chromatogr, V. 23, N.11, P.1186-1190, 2009.

KANEDA, N.; NAGATA, C.; KABUTO, M.; SHIMIZU, H. Fat and fiber intakes in
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women. Nutr Cancer, v.27, n.3, p.279-283, 1997.

LITTMAN, A.J.; BERESFORD, S.A.; WHITE, E. The association of dietary fat and
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MARCHESE, M. Influências do meio ambiente na saúde da mulher. Disponível em: http://www.taps.org.br/Paginas/meiopoquim05.html. Acesso em: 10 de março de 2012.

MARTIN, C.A. et al. Ácidos graxos poliinsaturados ômega-3 e ômega-6: importância e ocorrência em alimentos. Rev. Nutr., Campinas, v. 19, n.6, p.761-70, nov./dez., 2006.

ROSE, D.P.; LUBIN, M.; Connolly, J.M. Effects of diet supplementation
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SESTI, F.; PIETROPOLLI, A.; CAPOZZOLO, T.; BROCCOLI, P.; PIERRANGELI, S.; BOLLEA, M.R. et al. Hormonal suppression treatment or dietary therapy versus
placebo in the control of painful symptoms after conservative surgery for endometriosis stage III-IV. A randomized comparative trial.

SIGNORILE, P.G.; SPUGNINI E.P.; CITRO, G.; VICECONTE, R.; BALDI, F.; BALDI, A. Endocrine disruptors in utero cause ovarian damages linked to endometriosis. Front Biosci, v.1, n.4, p.1724-1730, 2012.

SIGNORILE, P.G.; SPUGNINI, E.P.; MITA, L.; MELLONE, P.; D'AVINO, A.; BIANCO, M.; DIANO, N.; CAPUTO, L.; REA, F.; VICECONTE, R.; PORTACCIO, M.; VIGGIANO, E.; CITRO, G.; PIERANTONI, R.; SICA, V.; VINCENZI, B.; MITA, D.G.; BALDI, F.; BALDI, A. Pre-natal exposure of mice to bisphenol A elicits an endometriosis-like phenotype in female offspring. Gen Comp Endocrinol, v. 168, n.3, p.318-325, 2010.

YAP, C.; FURNESS, S.; FARQUHAR, C. Pre and post operative medical therapy for endometriosis surgery (review). Cochrane Database Syst Rev, v.3, 2004.

TSUBURA, A.; UEHARA, N.; KIYOZUKA, Y.; SHIKATA, N. Dietary factors modifying breast cancer risk and relation to time of intake. J Mammary Gland Biol Neoplasia, v.10, n.1, p.87-100, 2005.

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