EndoPelvic - Centro Multidisciplinar de Endometriose

Dor na relação sexual pode ser endometriose

Cerca de 7 milhões de brasileiras tem endometriose, problema que causa grande desconforto durante o ato sexual e pode levar à infertilidade. Diagnóstico precoce minimiza os impactos no bem-estar diário

por Carolina Cotta

O que deveria ser prazeroso torna-se uma experiência negativa. A dor na relação sexual é sintoma comum da endometriose, doença inflamatória que ocorre quando o tecido que reveste o útero, o endométrio, se encontra em lugares onde não deveria crescer, como os ovários e a cavidade abdominal. A Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) estima que a endometriose afete de 10% a 15% das mulheres em fase reprodutiva. Isso quer dizer que cerca de 7 milhões de brasileiras sofrem do problema, que causa fortes dores e pode levar à infertilidade. Não há cura. Porém, o diagnóstico precoce, associado ao tratamento adequado, pode permitir melhora significativa dos sintomas e retorno à fertilidade para um grande número de mulheres.

Poucas delas têm conhecimento da doença. Poucas também saberiam relacionar a endometriose às dores durante a relação sexual. Dando outras causas a esse desconforto, muitas sequer desconfiam que podem ter o problema. Mas como saber se tal dor está ou não relacionada à endometriose? Sentir dor na relação é normal? E o parceiro? Ele está preparado para ouvir não em função de uma dor que é real? Segundo Agnaldo Lopes Silva Filho, professor titular do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina da UFMG, à frente do setor de cirurgia pélvica do Hospital das Clínicas, trata-se de uma dor cíclica, de forte intensidade, que aumenta progressivamente e está associada ao período menstrual. Diferentemente da cólica menstrual, que, na maior parte das vezes, é de leve intensidade e sem associação com sintomas intestinais e urinários, além de apresentar melhora com analgésicos comuns.

Professor associado do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM/USP), responsável pelo Setor de Endometriose do Hospital das Clínicas da USP e coordenador da Clínica de Reprodução Humana do Hospital Sírio-Libanês, Maurício Abrão explica que a dor na relação sexual pode ocorrer também em função da penetração e por causa da vagina seca, comum na menopausa. Mas, se for uma dor de profundidade, do momento em que o pênis encosta no fundo da vagina, e se for uma dor que piora perto do período menstrual, ela pode estar relacionada à endometriose. “Não arde, é uma dor aguda, por causa do impacto na lesão, forte ao ponto de interromper o ato sexual. Essa dor no ato sexual é um sintoma frequente da endometriose, assim como a cólica menstrual. Quando associadas a uma dor para evacuar, próxima ou no período menstrual, chama ainda mais atenção” explica.

Maurício Abrão também alerta as mulheres que passam mais de um ano tentando engravidar e não conseguem. Pode ser endometriose devido à alteração nas trompas (obstrução), ovulações imperfeitas, piora na qualidade dos óvulos ou a presença de agentes inflamatórios que dificultam a fecundação do óvulo. “Com o diagnóstico precoce, elas têm opções de tratamento que minimizam os impactos no bem-estar diário e possibilitam a programação de uma gravidez com tranquilidade. Em caso tardio, as trompas, que são responsáveis por conduzir o óvulo ao útero, podem ser comprometidas e os hormônios e o sistema imunológico, alterados, dificultando uma gravidez.”

Ainda não se conhece exatamente o porquê de a endometriose se desenvolver, mas é sabido que fatores imunológicos, genéticos e hormonais estão associados ao surgimento da doença. Clinicamente, na maioria dos casos, 44% das mulheres levam cerca de cinco anos reclamando sobre dores e desconfortos até chegar ao diagnóstico definitivo. “A recomendação é observar as respostas do corpo e compartilhar com o ginecologista. É importante que todas as mulheres em período reprodutivo fiquem atentas e alertem seu médico sobre alguma anormalidade, para que uma investigação minuciosa possa ser realizada, sendo possível identificar e tratar o problema com mais rapidez”, ressalta o especialista.

ENFRENTAMENTO

Prazer não combina com dor. Segundo a psicóloga clínica e educadora sexual Laura Muller, se está doendo, se algo incomoda, o caminho é procurar especialistas. O ginecologista pode encontrar opções para amenizar essa dor, mas um psicólogo também é importante. “Muitas vezes, a mulher já vem enfrentando essa dor há bastante tempo, o que pode se tornar uma dificuldade emocional. Ela pode estar indo para a cama com seu parceiro já sentindo medo de ter essa dor. E pode, por exemplo, estar contraindo, involuntariamente, a musculatura da região vaginal, aumentando a dor que já sentia”, alerta Laura.

Ao receber o diagnóstico da endometriose, a especialista acredita ser importante que essa mulher aceite que cada corpo é de um jeito e tem suas limitações. Só a partir daí o casal poderá buscar jeitos de dar e receber prazer de forma a não trazer dor ou incômodo. “Vai exigir um jogo de criatividade, mas é possível conseguir. O casal precisa fazer novos acordos e ajustes para, aos poucos e com tranquilidade, descobrir quais são as posições que dão mais prazer e são mais confortáveis. Ou seja, vai exigir muita conversa. E não tem receita, é um jogo de descobertas”, defende.

SINTOMAS COMUNS

  • Dores pélvicas e durante a relação sexual
  • Menstruações dolorosas e de fluxo intenso
  • Alterações no hábito intestinal (diarreia ou obstipação) e urinário

 

Fonte: http://www.uai.com.br/app/noticia/saude/2015/04/28/noticias-saude,187717/dor-na-relacao-sexual-pode-ser-endometriose.shtml

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