EndoPelvic - Centro Multidisciplinar de Endometriose

Qual a relação entre alimentação e endometriose?

Calcula-se que uma a cada dez mulheres em idade reprodutiva pode ter endometriose, uma doença inflamatória que tem a dor como um dos principais sintomas. Apesar de recorrente, a endometriose ainda é uma doença cercada de mistérios – não se sabe exatamente as razões para o seu surgimento e, por isso mesmo, não há cura. O que não significa que não haja tratamento. Remédios, cirurgias minimamente invasivas, fisioterapia e alimentação são algumas das ferramentas à disposição de pacientes e profissionais de saúde para controlar a doença. E é sobre a alimentação – sua relação com a endometriose e seus usos no tratamento – que falamos nesta entrevista com a nutricionista Simone Getz. Confira:

Uma primeira dúvida que muitas pacientes têm é: alimentos podem causar endometriose?

Ainda estão sendo estudadas as possíveis causas da endometriose (fisiológicas, hormonais, hereditariedade ou imunidade, entre outras coisas) e como elas se associam. Em relação aos alimentos, não podemos dizer que eles causam, mas sim que existe uma relação entre a alimentação e a endometriose. A alimentação adequada confere maior proteção e equilíbrio ao organismo e fortalece o sistema imunológico. Por isso, ela é considerada uma coadjuvante ao tratamento médico, capaz de melhorar os sintomas, prevenir níveis mais severos da doença e até evitar recidivas após o tratamento laparoscópico.

Pode-se dizer que a nossa dieta atual, rica em gorduras, aumenta o risco de endometriose e piora a inflamação?

Atualmente existe um consumo grande de carnes vermelhas, frituras e alimentos ultraprocessados, que são muito ricos em gorduras do tipo ômega-6 (como o ácido araquidônico) e colaboram para a inflamação. Por outro lado, é insuficiente o consumo de gorduras de boa qualidade, como as mono e poli-insaturadas (um exemplo é o ômega-3), que tem o efeito contrário, de modular a inflamação. Essa equação resulta em desequilíbrio: consumimos excessivamente gorduras pró-inflamatórias, enquanto há deficiência das gorduras benéficas. Além disso muitas das pacientes também não tem um consumo adequado de alimentos antioxidantes, que são benéficos por sua capacidade de reduzir a inflamação e aumentar a imunidade. Infelizmente muita gente não consome frutas, legumes, verduras e oleaginosas, seja porque não compra, porque não gosta, porque não leva para o trabalho ou porque desconhece o quanto esses alimentos são ricos e nutritivos.

Café, carne vermelha… Há uma lista infindável nos fóruns de portadoras do que evitar. Quais alimentos já se sabe que têm relação com a doença?

Há estudos mostrando que a carne vermelha e os embutidos têm relação com a incidência da endometriose. O menor consumo de frutas, legumes e verduras também mostra-se associado à doença. Quanto ao café, não há ainda conclusões a respeito.

Além de alimentos, há algumas substâncias que podem ser encontradas nos alimentos devido ao processo de armazenamento, como o bisfenol, que têm relação com a endometriose, não é mesmo?

Sim. Chamamos de xenobióticos, que são os compostos químicos presentes nos agrotóxicos, nas embalagens plásticas, nos corantes e nos conservantes e que acabamos consumindo indiretamente através dos alimentos. Essas toxinas ambientais, como o bisfenol e tantos outros não são reconhecidas pelo nosso corpo, já que não são nutrientes. Quando consumidos em excesso, eles se acumulam no organismo e afetam o sistema endócrino (responsável pela produção hormonal) da mulher. Por isso, o ideal para a portadora de endometriose é consumir vegetais orgânicos e guardar os alimentos em casa em embalagens de vidro, principalmente aqueles mais gordurosos como frangos, carnes, peixes e queijos. Além disso, priorizar sempre a comida caseira, fresca e trivial. Algumas frases para se ter em mente: “Comida sem rótulo é comida de verdade”. “Descasque mais e desembale menos”.

A endometriose é “mantida” pelo hormônio estrogênio. Há como balancear melhor esse hormônio por meio da alimentação?

Sim. Algumas maneiras de fazê-lo são dar preferência a frango, ovos, carnes e leite orgânicos, ou seja, de animais criados sem o uso de hormônios. Outra dica é moderar o consumo de vegetais que tenham em sua composição fitoestrógenos, que são compostos com estrutura química semelhante ao estrogênio. A soja é um exemplo de alimento com fitoestrógenos. Como ainda não sabemos o real efeito desse composto, o melhor é consumir com moderação.

O que é o ômega 3 EPA e por que ele pode ajudar na endometriose?

O EPA (ácido eicosapentaenóico) é uma das frações do ômega-3, a “gordura do bem” sobre a qual falei anteriormente. Ele atua modulando a inflamação: quando há ômega-3 EPA em ótima quantidade no organismo, ele ocupa o lugar do ômega-6 (ácido araquidônico, aquela gordura mais inflamatória) nas membranas celulares, diminuindo assim a produção de outras substâncias inflamatórias, que são responsáveis por aumentar a sensação de dor (cólicas). Por isso é importante lembrar de consumir ômega-3 EPA quando se tem dor.

Sobre a dor, aquelas dicas em geral de alimentos para reduzir a cólica ajudam também nos casos de endometriose?

Entendo que “cuidar do funcionamento intestinal” é fundamental para as mulheres com endometriose, porque muitas delas apresentam constipação e gases, e isso acaba aumentando a percepção de dor. Nesse caso, alimentos integrais, frutas laxativas, verduras, legumes e grãos como o feijão, o grão de bico e a lentilha (deixados adequadamente de remolho) vão ajudar porque aumentarão a conta final de fibra ingerida diariamente. Boa hidratação também é fundamental. Em alguns casos específicos e sob orientação, a retirada do glúten e da lactose, a suplementação das “gorduras boas”, assim como o uso de probióticos para promover uma flora intestinal mais saudável são sugeridos. Aliás, para ter uma orientação mais eficaz e individualizada, é sempre recomendável buscar um profissional.

 

Simone Getz é nutricionista graduada pela Faculdade de Saúde Pública da USP, pós-graduada em Saúde da Mulher no Climatério, Nutrição Clínica e Ortomolecular, e Fitoterapia.

 

Fonte: http://www.chegadedor.com/2016/10/11/alimentacao-e-endometriose/

 

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