EndoPelvic - Centro Multidisciplinar de Endometriose

Endometriose e Fisioterapia Pélvica

5 contributos da fisioterapia pélvica para melhorar a dor associada à Endometriose

A fisioterapia pélvica está a tornar-se cada vez mais popular entre as portadoras de Endometriose. Os fisioterapeutas com formação específica no âmbito da saúde pélvica desempenham um papel fundamental no tratamento desta patologia enquanto membros de equipas multidisciplinares.

Se sentir dores no ombro ou no joelho, certamente que irá consultar um fisioterapeuta para tratar problemas relacionados com os ossos, músculos, nervos, fáscias e ligamentos associados a essas articulações. Da mesma forma, existem ossos, músculos, nervos, fáscias e ligamentos na pelve e abdómen que estão sujeitos a alterações substanciais devido à evolução da Endometriose.

Os fisioterapeutas especializados em saúde pélvica ou na saúde da mulher trabalham com a pelve, coluna e abdómen. Estes profissionais avaliam o alinhamento, a musculatura, os sistemas fasciais e os padrões de movimento da pelve e do corpo, procurando solucionar problemas relacionados com a dor intensa e com a consequente diminuição da qualidade de vida. Depois dessa avaliação, é desenvolvido um programa de tratamentos personalizado e adaptado às necessidades específicas de cada paciente. Apresentamos aqui cinco benefícios da fisioterapia pélvica para as portadoras de Endometriose, desde o alívio da disfunção do pavimento pélvico até à melhoria da vida sexual:

1. Melhoria do pavimento pélvico

A pelve está alinhada com um conjunto de músculos designados como “pavimento pélvico”. Estes ajudam a fixar a estrutura óssea da pelve, servem de suporte aos órgãos pélvicos e estabilizam as articulações móveis dessa parte do corpo, como a anca e a articulação sacro-ilíaca. O pavimento pélvico auxilia a continência fecal e urinária e poderá também contribuir para o prazer sexual, nomeadamente através do orgasmo. Deverá ter alguma extensão para permitir uma relação sexual sem dor.

O pavimento pélvico tem uma forma de funil que liga a parte anterior, posterior e lateral da pelve. A vagina, o recto e a uretra têm conexões musculares. Assim, sempre que existe um historial de Endometriose, os músculos do pavimento pélvico reagem à presença desta patologia. Se não houver, por parte destes músculos, uma coordenação efetiva da contração e relaxamento do pavimento pélvico, teremos o que chamamos de disfunção do pavimento pélvico. Alguns dos sintomas desta disfunção incluem (mas não se restringem a):

  • a) dores nas costas, ancas e articulação sacro-ilíaca;
  • b) dificuldades no esvaziamento da bexiga;
  • c) aumento da frequência urinária, ardor ou dor (disúria);
  • d) obstipação ou diarreia;
  • e) dor ao defecar (disquézia) e incontinência fecal;
  • f) dispareunia;
  • g) incapacidade de tolerar um espéculo durante um exame ginecológico;
  • h) dor aquando da utilização de tampões.

A fisioterapia pélvica contribui para a normalização da disfunção do pavimento pélvico através de um conjunto de intervenções variadas que irão estimular a re-coordenação desse mesmo pavimento pélvico.

2. Sexo menos doloroso

Todas as portadoras de Endometriose têm o direito de ter uma vida sexual sem dor. Esta patologia pode fazer com que a relação sexual seja extremamente dolorosa. Contudo, para minorar essa dor, é importante que os músculos internos do pavimento pélvico sejam alongados, e não contraídos, e que nada na pelve possa enviar mensagens de dor durante a relação sexual.

Sabe-se que a Endometriose provoca inflamação, assim como a formação de tecido cicatricial e de aderências dentro das cavidades pélvica e abdominal. Estas lesões pélvicas fomentam o aparecimento de pontos gatilho (trigger points) miofasciais que desencadeiam dor no interior do pavimento pélvico, na anca, e nos músculos abdominais e das costas. As referidas lesões causam ainda espasmos e o espessamento dos músculos no interior da pelve, dado que reagem aos padrões de tensão criados pela própria doença e pela cirurgia.

Estes pontos gatilho conduzem a uma disfunção do tecido conjuntivo e provocam dor. São conhecidos por provocarem os chamados padrões de dor referida: muito embora os pontos gatilho se encontrem dentro da pelve, a mulher poderá sentir dor ao longo dos membros inferiores ou em qualquer outra parte do corpo.

As dores menstruais podem aumentar a dor nos pontos gatilho, uma vez que os padrões de dor disparam durante a menstruação devido à ação dos agentes de stress inerentes ao ciclo menstrual. Mesmo a falta de flexibilidade dos músculos ísquio-tibiais ou flexores da anca, bem como os problemas de alinhamento de uma articulação podem tornar o sexo doloroso, em qualquer posição. No caso de mulheres que não tenham relações sexuais devido à dor intensa, engravidar naturalmente torna-se praticamente impossível.

3. Tratamento de outras causas de dor

Importa realçar que mesmo num contexto de Endometriose, nem todas as dores estão relacionadas com a doença. Portanto, tratar apenas a Endometriose pode não ser suficiente para aliviar a dor sentida pelas mulheres que padecem desta patologia.

Não é invulgar que as mulheres portadoras de Endometriose sofram igualmente de cistite intersticial (CI), de tal forma que estas doenças são muitas vezes apelidadas de “gémeos do mal”. Para além de causar sintomas urinários, a CI provoca dor no pavimento pélvico, no abdómen inferior, costas e pernas. A CI pode ainda ser responsável por espasmos na pelve, porque o organismo está a tentar proteger-se da dor e da inflamação.

As mulheres com Endometriose podem também sofrer de vulvodinia e de neuropatia do nervo pudendo – dois distúrbios associados à dor pélvica com múltiplos componentes, incluindo danos musculares e nervosos que a fisioterapia pélvica pode ajudar a aliviar.

4. Ataque à “barriga de Endometriose”

Muitas mulheres portadoras desta doença queixam-se da denominada “barriga de Endometriose” ou de um inchaço excessivo sem nenhum motivo aparente.

Algum deste inchaço pode ser atribuído aos quadros peritoneais inflamatórios da Endometriose. Porém, a existência de tensão no pavimento pélvico pode contribuir para a já referida “barriga de Endometriose”, dado que o pavimento não consegue proporcionar o suporte desejado, e para o qual foi concebido, o que leva a barriga a inchar como um balão. O organismo tem espasmos como uma forma de resposta protetora contra a Endometriose.

A fisioterapia pode ajudar a um relaxamento dessa resposta protetora. Pode ainda contribuir para um melhor funcionamento do sistema linfático e do retorno venoso com vista a uma absorção mais eficaz da inflamação. Quando os músculos do abdómen, incluindo o músculo flexor da anca ou o músculo psoas, têm pontos gatilho ou espasmos, pode ocorrer uma evaginação, que se assemelha a um inchaço extremo.

Depois de vários anos de presença da doença no peritoneu e nos diferentes órgãos, a forma como a fáscia – uma espécie de película de plástico que envolve tudo no nosso corpo – e o cérebro sentem quer a dor, quer a proprioceção (posição) dos órgãos, poderá mudar. Alguns fisioterapeutas especializados na saúde pélvica executam uma técnica designada como “terapia de manipulação visceral”. As mulheres a quem é aplicada esta técnica apercebem-se normalmente de uma diferença considerável no que diz respeito ao inchaço e à distensão abdominal, assim como ao nível da dor abdominal e pélvica.

5. Tenha um maior controlo sobre a sua vida e a sua doença

Com um diagnóstico tardio, que demora em média 7 anos, muitas mulheres com Endometriose sofrem durante demasiado tempo e sem alívio significativo da dor. Parte destas mulheres ouviram, várias vezes, que a dor estava na cabeça delas, que não era real, e por isso esperam ansiosamente que um médico possa ajudá-las depois de tantas opções de tratamento terem falhado.

É provável que estas mulheres tenham medo de tentar mais uma vez, devido a um percurso tão difícil e longo. Mas não devem ter medo. A boa notícia relativamente à fisioterapia especializada na saúde pélvica é que a própria mulher é o elemento mais importante da equipa de tratamento. O sucesso deste tipo de fisioterapia resulta de uma parceria entre as pacientes e o fisioterapeuta.

Muitas mulheres ficam surpreendidas com o alívio que sentem depois do tratamento de problemas músculo-esqueléticos que provocam dor. Ao aprendermos de que forma o organismo está ligado e poderá ser afetado pela Endometriose, desde os nervos, aos músculos e até à vida sexual, tornamo-nos mais capacitadas para lidar com esta patologia.

Da mesma forma, ao tomarmos conhecimento de técnicas que podemos utilizar em casa durante uma crise de dor e ao percebermos que existem profissionais especializados e disponíveis para ajudar, iremos compreender que, apesar de tudo o que aconteceu ao nosso organismo, teremos sempre influência na nossa própria vida e no nosso quotidiano. A dor que sentimos não nos define e podemos ficar melhores!

 

Este artigo foi traduzido para Português por Catarina Jerónimo, foi revisto por Sara Carvalho e publicado com a autorização da Endometriosis.org
FONTE: Mulherendo por Sallie Sarrel http://inspirar.com.br/blog/endometriose-e-fisioterapia-pelvica/

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