EndoPelvic - Centro Multidisciplinar de Endometriose

Nutrição para portadoras de Endometriose

A forma mais completa e integrada de tratar a Endometriose é através de uma série de abordagens feitas por profissionais em diversas áreas. A excisão cirúrgica feita por peritos, fisioterapia do pavimento pélvico e uma dieta adequada, entre outros tratamentos, desempenham um papel muito importante no tratamento holístico de pacientes portadoras de Endometriose.

Ainda que a dieta não seja a causa directa nem a cura para a Endometriose, ela tem sem dúvida um papel importantíssimo na forma como nos sentimos. Aqui falaremos sobre o impacto das nossas escolhas alimentares, na forma como nos sentimos e em alguns dos elementos que podem despoletar sintomas nas pacientes de Endometriose.

É importante recordar que uma mudança nos hábitos alimentares não é um processo imediato e que as necessidades de cada uma são diferentes. Os alimentos que despoletam sintomas numa paciente não serão os mesmos para outra e há ainda outros elementos que não são abordados neste artigo.

Embora possa demorar um pouco e envolva um processo de alguma experimentação até acertar nas necessidades individuais, a grande maioria das pacientes irá concluir que uma dieta anti-inflamatória, evitando certos alimentos que despoletam os sintomas, poderá significar uma melhoria significativa na qualidade de vida da paciente.

Sintomas de outros problemas de saúde que as pacientes de Endometriose apresentam, tais como cistites, ovários policísticos e síndrome de cólon irritável também tendem a melhorar significativamente com uma dieta adequada.
A maioria das pessoas têm consciência que a inflamação em geral causa uma série de sintomas, sendo o maior de todos eles a dor. O que a maioria das pessoas não sabe é que as nossas escolhas alimentares podem diminuir ou aumentar a inflamação e todos os sintomas a ela associados. Isto são óptimas notícias, pois dá-nos a oportunidade de reclamar algum do controle sobre a nossa saúde e dor, que é algo que todas as portadoras de Endometriose sentem que está fora das suas mãos.

Mas que alimentos são inflamatórios, aumentam a dor e a probabilidade de inúmeras doenças inflamatórias?

Os alimentos processados, refinados e sintéticos são a primeira categoria de alimentos a evitar. Refeições e snacks pré-preparados, refrigerantes, carnes fritas, fumadas e/ou processadas, cereais de pequeno almoço, pastelaria, grãos refinados ou feitos com farinha branca, açúcar, soja, adoçantes artificiais, gorduras saturadas, e uma série de aditivos, colorantes e químicos, etc. Todos eles contribuem para a sobrecarga tóxica do nosso corpo. Evitar estes alimentos, preferindo alimentos frescos e não processados (biológicos, sempre que possível), com um forte ênfase nos alimentos frescos são a parte fundamental da dieta anti-inflamatória.

O glúten é uma proteína encontrada nos grãos (incluindo trigo, centeio, espelta, cevada, e há quem inclua a aveia) com que muitas das portadoras de Endometriose têm dificuldades. Um estudo recente mostra que 75% das pacientes reduziram os níveis de dor seguindo uma dieta sem glúten. Trata-se de uma proteína difícil de digerir, levando a vários sintomas ao nível digestivo, inchaço abdominal e aumentos dos níveis de dor.

Há pessoas que concluem que apenas não toleram o trigo, mas ingerem outros cereais com glúten sem problemas. A chave para uma dieta sem glúten é optar por alimentos sem este elemento, tais como arroz integral ou selvagem, quinoa, milho-paínço, legumes e batata doce não têm glúten, e evitar os alimentos tais como pão, massas, bolos, cereais de pequeno-almoço, bolachas e outros, que apesar de indicarem que não têm glúten acabam por ser alimentos muito processados, caíndo na categoria de altamente inflamatórios. Também é importante saber que muitos condimentos contêm glúten, por isso é importante ler os rótulos ou ainda melhor, fazer em casa os próprios molhos e marinadas, evitando assim o glúten e outros ingredientes inflamatórios.

A soja teve uma explosão de popularidade nos últimos 15 anos. Embora seja considerada como um super-alimento, na verdade não corresponde a tanta publicidade.

Trata-se de uma planta dura e tradicionalmente era apenas consumida em forma fermatada, tal como sopas miso. A soja não fermentada é altamente difícil de digerir e é extremamente inflamatória. Além disso, contém ácido fitico, um “anti-nutriente” que inibe a absorção de uma variedade de minerais essenciais, interferindo na função tiróide. Além disso, a soja tem altos níveis de isoflavonas, um tipo de estrogénio natural que aumenta os níveis de estrogéneo nos humanos. Isto é particularmente complicado em portadoras de Endometriose, já que pode despoletar dor.

A soja dos dias de hoje é fruto das plantações mais pulverizadas com pesticidas no planeta e é quase sempre geneticamente modificada. (…) Um estudo recente mostrou que porcos alimentados com alimentos geneticamente modificados tinham um peso uterino 25% superior e tinham 2.6 vezes mais probabilidade de sofrer de inflamações digestivas do que os porcos alimentados com ingredientes não geneticamente modificados. Tanto as fêmeas como os machos mostraram redução nas taxas de fertilidade. O tipo de soja que falamos surge como proteína de soja, soja isolada, farinha de soja, leticina de soja e óleo de soja, todos elementos que aparecem nos substitutos de lacticínios e carnes, tofu, molho de soja, condimentos, molhos, pastelaria, bolachas, suplementos de proteína e substitutos de refeição, leite em pó e sobremesas.
(…)
Os lacticínios, tal como a soja, podem ser extremamente inflamatórios, podem conter quantidades significativas de hormonas e podem ser muito difíceis de digerir, levando a uma exacerbação dos sintomas de inflamação. A lactose é um açúcar encontrado no leite, que muitos adolescentes e adultos têm dificuldade em assimilar, o que leva à dor, inchaço e outros sintomas, que ocorrem quando as bactérias presentes nos intestinos começam a digerir este açúcar e a fermentá-lo.

A caseína é uma proteína encontrada no leite que pode despoletar graves reacções alérgicas semelhantes à intolerância da lactose. Um sistema gastro-intestinal infeliz pode “irritar” as lesões de Endometriose presentes no intestino ou na cavidade pélvica em geral, levando a episódios de dor.

Infelizmente, e à semelhança da soja, os lacticínios são cada vez mais adulterados. As vacas são alimentadas com antibióticos, o que além da crescente resistência aos antibióticos pode levar a sintomas de síndrome de cólon irritável. Além disto, muito do gado para produção é alimentado e/ou injectado com hormonas de crescimento naturais e/ou geneticamente modificadas. Algumas destas hormonas elevam os níveis IGF-1, causando o crescimento e aumento da actividade de células (incluindo potencialmente células de Endometriose). Além disto, as hormonas naturais das vacas aumentam os níveis gerais de estrogéneo, o que aumenta os sintomas de inflamação e dor. O consumo de lacticínios magros e com baixo teor de gordura foi associado à infertilidade ovulatória.

A escolha de alternativas aos lacticínios tais como leite de amêndoa, leite de coco ou de arroz, queijos de frutos secos são boas opções. Algumas pessoas toletam bem o queijo de cabra e ovelha. É importante também assegurar a ingestão de cálcio através de outras formas que não os lacticínios tais como vegetais de folha verde, amêndoas cruas, salmão fresco ou enlatado (sem BPAs), sementes de sésamo cruas e brócolos, trazendo assim o suplemento adequado de cálcio e magnésio à sua dieta.

Os óleos e gorduras são os alimentos que mais causam confusão no que diz respeito à nutrição. Há muita desinformação por aí e ainda assim ingerir os óleos correctos é crítico para uma boa gestão da inflamação e saúde em geral. Os óleos certos irão manter as membranas das células flexíveis, as hormonas em equilíbrio e ajudarão a manter as hormonas e substancias inflamatórias sob controlo.

Infelizmente, os óleos mais consumidos são todos extremamente refinados, processados, danificados e altamente inflamatórios. Sim, aqueles óleos “saudáveis” tais como o óleo de cânola, girassol, milho, soja e outros “benéficos para o coração”, são profundamente inflamatórios, aumentam a dor, reduzem a fertilidade e aumentam o risco de doença cardíaca, cancro, e outras doenças graves. Durante o processamento destes óleos que são extremamente frágeis, eles são expostos a calor excessivo, luz e ar, químicos para desodorizar e branquear o óleo e são depois postos em garrafas de plástico claras onde continuam a degradar-se à luz natural.

Para piorar a situação, e porque são tão processados, estes óleos são usados a altas temperaturas, o que ainda degrada mais a sua qualidade. Além disto, este tipo de óleos contém muito mais do inflamatório Omega 6 do que do anti-inflamatório Omega 3, o que aumenta a inflamação sistémica e a dor. As gorduras trans, tais como os óleos e gorduras parcialmente hidrogenadas (óleos vegetais e margarinas), devem ser eliminadas da dieta por completo.

O que comer em vez disto?

Escolha óleos e alimentos com alto teor de Omega 3. Sementes de linhaça orgânicas, smentes de chia, óleo de semente de girassol em garrafas de vidro escuras, que possam ser usados e guardados no frigorifico. Use estes óleos para temperar saladas, molhos ou adicionar nos batidos. Ingira salmão selvagem, arenque, sardinhas, anchovas, algumas algas são excelentes fontes de Omega 3.

Azeite extra-virgem, em garrafa de vidro escura, guardado num local escuro ou óleo de abacate podem ser usados em cozinhados frios ou aquecidos em lume brando ou baixo.

A carne vermelha é um problema pelas mesmas razões que os lacticínios. Pode ser bastante inflamatória, difícil de digerir e levar a sintomas de má digestão e instestino irritável. O gado é alimentado com ração de grão, às vezes genticamente modificado, com hormonas de crescimento. Se tolerar a carne vermelha, escolha carne de origem certificada, alimentada em pasto ou com o selo biológico.

As fibras solúveis são importantes para manter os alimentos em movimento no intestino e ajudar o corpo a expelir as hormonas em excesso. Ao contrário da fibra insolúvel, aquelas fibras dissolvem-se em gel e lubrificam o intestino mantendo a comida em movimento, sem irritar ou arranhar as paredes do intestino, o que pode aumentar a dor. Alimentos tais como maças, pêras, ameixas, leguminosas (feijões, lentilhas e ervilhas), cereais integrais, frutos cítricos, sementes de chia ou linhaça moídas ou sementes de psílio são boas fontes de fibras solúveis.

O álcool é extremamente inflamatório, difícil de absorver para o fígado e um gatilho para despoletar dor. Considere eliminar por completo o álcool da sua dieta e permitir-se apenas um copo em ocasião de festa. A cafeína também aumenta a dor assim como os sintomas de TPM, embora algumas mulheres consigam tolerar pequenas quantidades de cafeína, como no chá verde ou branco, ou pequenas chávenas de café.

Considere eliminar o café, refrigerantes, bebidas energéticas, chá preto, chocolate e outras fontes de cafeína durante um mês e veja como se sente.

Então como fazer a transição para uma dieta anti-inflamatória e incorporar todos estes hábitos na vida quotidiana?

O primeiro passo é trabalhar com um nutriocionista qualificado com um grande conhecimento de Endometriose que possa guiar e auxiliar neste processo. É importante lembrar que este processo demora tempo e exige compromisso e força de vontade. Mas, dito isto, sem dúvida que a mudança na nutrição pode provar-se um componente fundamental no controlo da Endometriose. Os resultados compensam o esforço. A grande maioria das pacientes reconhece melhorias significativas em termos de sintomas, energia e bem-estar geral.

Este artigo deve ser visto apenas como material educacional de âmbito geral e não deve ser considerado como informação médica ou aconselhamento nutricional. Por favor consulte o seu médico e nutricionista antes de implementar qualquer plano nutricional, suplemento alimentar ou plano de exercícios de forma a garantir a sua segurança e adequação ao seu caso em particular.

© 2013 Nutritionista. Erin Luyendyk, RHN. Todos os direitos reservados. Reimpressão e tradução com a permissão do autor.
Erin Luyendyk, RHN é uma Nutricionista Holística Certificada, Formadora de Nutrição, Chef e Fundadora da Nutritionista; Inspiradora de mulheres em todo o mundo na área da alimentação saudável. Erin domina todas as áreas clínicas de nutrição holística, no entanto, detém especial habilitação na nutrição feminina; sobretudo utilizando o conceito de nutrição integrativa na gestão da endometriose, síndroma dos ovários poliquísticos e síndroma pré-menstrual. Ela detém também uma paixão especial pelas áreas de perda de peso, síndroma metabólico e terapias cosméticas nutricionais para o cuidado da pele. A sua filosofia de nutrição é centrada no valor intrínseco da alimentação não industrial ou não processada; a dieta anti-inflamatória é uma componente chave na gestão eficaz de muitas doenças crónicas existentes nos nossos dias. Erin consulta clientes privados na área da nutrição e profissionais de saúde internacionais. Para mais informação visite por favor www.thenutritionista.ca.
Artigo original: Erin Luyendyk, RHN
Fonte: www.centerforendometriosiscare.com
Tradução: Carla Floreano – Associada MulherEndo
Revisão: Susana Fonseca – Presidente MulherEndo

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